A mobilidade ativa como aliada no enfrentamento à crise sanitária

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No Dia Mundial da Bicicleta, conheça as iniciativas mundo afora para incentivar a mobilidade ativa no enfrentamento à pandemia de Covid-19.

Fonte: El Comercio, Peru, 2020.

A pandemia do Coronavírus atingiu em cheio o cotidiano de bilhões de pessoas ao redor do mundo e alterou drasticamente a maneira como nos relacionamos com o espaço urbano. Há menos de seis meses, imaginar o cenário atual seria como pensar em um filme de ficção científica, ou em uma distopia de Saramago. A necessidade de distanciamento social para conter o contágio do vírus afeta a vida das pessoas em todos os pontos: trabalho, estudo, relações interpessoais e, além disso, a maneira como se locomovem nas cidades.

Nesse contexto, os especialistas em mobilidade urbana vêm apresentando a mobilidade ativa, em especial o ciclismo, como melhor alternativa de deslocamento para os que precisam sair às ruas, apontando, em meio à crise, um momento oportuno para se incentivar um modelo de cidade mais sustentável.

No artigo mais recente que publicamos sobre o tema, replicado do site Citylab  (aqui), estão algumas das vantagens em se adotar o ciclismo como estratégia em tempos de crise, destacando-se o modal como uma alternativa mais segura em relação aos sistemas de transporte público lotados. Hoje, no Dia Mundial da Bicicleta (03 de junho), convidamos você a conhecer alguns exemplos do que está sendo feito mundo afora para se incentivar a mobilidade ativa, respeitando-se o distanciamento social.

Lima (Peru)

As ciclovias de Lima, no Peru, planejadas para serem construídas nos próximos 5 anos, estarão prontas para uso nos próximos 3 meses. Essa foi a informação publicada no jornal local El Comercio. Em Lima, 75% da população se desloca por transporte público e somente 9% em automóveis próprios. O governo peruano reduziu pela metade a lotação nos ônibus na tentativa de reduzir a propagação da Covid-19, um veículo com capacidade para 70 passageiros agora só pode viajar com 35. A solução proposta foi que as pessoas realizem suas viagens curtas de bicicleta – essas viagens, atualmente, são atendidas por ônibus, coletivos, kombis e mototáxis.

Para tanto, o governo elaborou um projeto em duas partes: a primeira consiste em instalar uma rede de 301 km de ciclovias temporárias de emergência que, posteriormente, serão substituídas por uma estrutura fixa. Estas novas ciclovias serão integradas às mais de 70 já existentes em 14 distritos, que possuem baixa capilaridade e conexões, produzindo viagens que “levam do nada a lugar nenhum”. A segunda parte do plano é o desenvolvimento de um protótipo peruano de bicicletas de baixo custo e que atendam às condições mínimas de segurança, mas que não custem acima de 350 novos sóis (moeda peruana), valor que pode ser recuperado em 2 meses ao se substituir o transporte público convencional pelo uso das bicicletas.

Nova York (Estados Unidos) e Londres (Inglaterra)

Em Nova York, além da ampliação da rede cicloviária, a empresa de bicicletas compartilhadas Citi Bike NYC, em parceria com a prefeitura, está oferecendo 30 dias de utilização gratuita de suas bicicletas para profissionais da área da saúde, além de ampliar a limpeza e desinfecção das bicicletas e paraciclos, especialmente daqueles próximos a hospitais.

Já em Londres, os funcionários do Serviço Nacional de Saúde receberam um código de dispensa da taxa de acesso às bicicletas compartilhadas da empresa Santander Cycles, para viagens de até 30 minutos, sendo priorizadas as estações próximas de hospitais para garantir o acesso regular às bicicletas.

Milão (Itália)

Em Milão, a Agência de Mobilidade lançou um grande plano de ampliação dos espaços para bicicletas e pedestres, que conta com um guia detalhado de estratégias e ações em diversas frentes: “Ruas abertas: estratégias, ações e ferramentas para pedalar e caminhar, garantindo as medidas de distanciamento nas viagens urbanas e em direção à mobilidade sustentável”. O guia propõe que a cidade se adeque para priorizar a circulação das pessoas, respeitando-se o distanciamento social e levando-se em consideração a significativa redução no número de carros nas ruas, o custo relativamente baixo do investimento e a possibilidade de encontrar-se menos resistência às mudanças. Propõe, ainda, fazer-se uso de ações de urbanismo tático, que já foram testadas anteriormente com sucesso e a ampliação da malha cicloviária em 35 km, bem como a redução do limite de velocidade em pontos específicos para 30 km/h e a supressão de vagas de estacionamento para dar espaço à circulação de pessoas e bicicletas. Esse guia é compatível com um projeto maior, aprovado em dezembro de 2018, o Plano de Mobilidade Urbana Sustentável (PMUS), que visa a promover uma mobilidade ativa mais eficaz, integrando distritos mais afastados da cidade com o centro e municípios da região metropolitana, além de incentivar viagens sistemáticas entre os diferentes centros urbanos através da ampliação da malha cicloviária e reforma da rede já existente. O guia para ações emergenciais também apresenta medidas complementares à estratégia “Città 30”, parte do mesmo Plano (PMUS), que propõe a expansão de zonas com limite de velocidade 30 km/h, particularmente ao longo do anel viário.

Belém (Brasil)

Em Belém, o Laboratório da Cidade participou do desenvolvimento de um Projeto de Lei, em parceria com o vereador Wilson Neto, que está em tramitação e propõe autorizar o Poder Público Municipal a expandir a rede de mobilidade ativa (calçadas e ciclofaixas) em caráter temporário ou permanente de acordo com levantamento prévio a ser realizado pela Secretaria de Mobilidade Urbana (SEMOB). 

A mobilidade ativa é considerada o modo mais saudável e sustentável de se deslocar. É também uma ótima maneira de se incentivar a economia local e está entre as principais estratégias para conseguirmos cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda ONU 2030.

Celebrar o Dia Mundial da Bicicleta permite uma reflexão oportuna para o momento atual, sobre a possibilidade de construirmos uma relação mais harmoniosa com as nossas cidades daqui para frente.

Referências

National Association of City Transportation Officials | National Association of City Transportation Officials

Pedalear contra la pandemia | El Comercio (Lima)

Caring for the Citi Bike community (NY)

TfL suspends all road user charging schemes to help critical workers (Londres)

Open Streets (Milão)

Por Isabela Avertano Rocha. Urbanista e Arquiteta. Especialista em Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente. Mestra em Desempenho Ambiental e Tecnologia. Integrante do Coletivo Cidade para Mulheres. Gerente de Projetos no Laboratório da Cidade.

Artigo revisado e editado por Toni Moraes – Monomito Editorial para Laboratório da Cidade.

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