Sobre a ‘pracinha’ do Laboratório da Cidade

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WhatsApp Image 2017-09-24 at 19.42.47.jpegDos dias 21 a 24 de setembro o Laboratório da Cidade, em parceria com o Belém Photos, implantou o primeiro parklet de Belém. A iniciativa ocorreu após a publicação de um decreto municipal que autorizou a construção desses espaços na cidade.

O parklet é um ambiente de convivência de uso irrestrito que dá novo papel a um espaço público que normalmente seria reservado para duas vagas de estacionamento na rua. Tem com isso o objetivo de promover uma melhor relação entre as pessoas da região onde são instalados, mudando sua dinâmica de interação com o ambiente, além de promover um novo fluxo de experiências em um espaço que era subutilizado.

A proposta do parklet construído pelo LdC foi idealizada pelo graduando em arquitetura Hugo Shibata, como parte de seu Trabalho de Conclusão de Curso. Hugo participou da nossa primeira chamada de voluntários e viu ali uma oportunidade de aliar sua ideia, de pensar novos espaços para as pessoas na cidade, ao objetivo do Laboratório de implantar intervenções estratégicas, estabelecendo assim essa parceria para o desenvolvimento do projeto.

O LdC contou ainda com a participação de empresas como o Grupo Líder, que doou pallets para a construção do parklet, ONGs e outros voluntários. A associação Verde Cidadão, ofereceu uma oficina de plantio de mudas, doadas aos participantes e visitantes do espaço, e promoveu a revitalização dos canteiros da calçada em frente ao Belém Photos.

Durante os quatro dias foram ministradas aulas diversas como a de meditação ativa, com Camila Honda, pilates, com Tassiana Scotta, assim como shows de artistas locais, como Marcel Barreto, Felipe di Maria, e a banda Jonas e as Baleias. Contamos também com um bate papo literário com Toni Moraes, autor paraense do romance “O ano em que conheci meus pais”.

No último dia tivemos ainda um debate sobre diferentes experiências de uso e desenvolvimento de parklets pelo mundo, com a presença do arquiteto Luís Ferreira, que apresentou o projeto que ajudou a desenvolver na Irlanda, e Hugo Shibata, que detalhou como havia sido construída e quais eram as impressões da experiência ali vivenciada. O debate foi mediado pelo arquiteto e professor Paulo Ribeiro, que não apenas ressaltou a importância de ambientes como aquele, de pensar e propor melhorias na utilização dos espaços urbanos, como também se dispôs a estabelecer parceria para que estudantes de arquitetura desenvolvam projetos semelhantes.

Ao longo dos quatro dias foi aplicada uma pesquisa com os frequentadores do parklet para subsidiar um debate qualificado sobre o tema, partindo da metodologia aplicada no Laboratório da Cidade, o Think and do Tank, na qual além de ser uma fábrica de ideias e práticas voltada para agir na cidade, se propõe a gerar dados para subsidiar o debate e qualificar a implantação de outras iniciativas semelhantes para Belém.

O parklet criou um novo ângulo, onde foi possível enxergar a cidade de uma forma diferente, e em quatro dias reconfigurou um espaço público entregando às pessoas um ambiente que promoveu novas possibilidades de interação.  

Este foi, portanto, um projeto piloto para a proliferação da iniciativa por toda Belém, a partir dessa primeira experiência vimos que é possível pôr em prática ideias que repensam a nossa forma de se relacionar com a cidade e, por meio de uma construção coletiva, resignificar espaços públicos. Com o material coletado na pesquisa, e a lições apreendidas pelos voluntários que participaram do projeto, o LdC seguirá estabelecendo parcerias para, a partir da demanda e das realidades de cada lugar, espalhar essa ideia pela cidade.

 

Abaixo seguem os depoimentos de dois participantes das atividades que promovemos entorno da nossa “pracinha”.

“Eu não sabia o que eram parklets até que a ideia surgiu no Laboratório da Cidade. Preferi o nome “pracinha”, sugerido como forma de a proposta ser melhor entendida em Belém, já que sou meio contra estrangeirismos desnecessários. Mas sou a favor de um espaço público democrático, instalado em um espaço de duas vagas de carro, que beneficie 300 transeuntes em vez de 40 motoristas em um dia; um espaço polivalente, capaz de abrigar shows, exposições, oficinas para plantios de mudas, simples bate-papos ou o que mais sua criatividade deixar; um local que atraia as pessoas para ocupar as calçadas, ou passeios públicos, onde tão poucas pessoas passeiam hoje em dia – por preferirem shopping centers ou outros locais fechados – por medo da falta de segurança. Sou contra, aliás, essa insegurança, e vejo em propostas como esta um chamado para combatê-la, se apropriando do que é nosso: a cidade. Muita gente discorda de mim e foi contra as pracinhas – alguns motoristas acharam inadmissível perder a enorme quantia de duas vagas nos quatro dias que o Laboratório da Cidade mostrou a Belém seu primeiro resultado prático. E alguns comemoraram já na segunda-feira, de um modo tristemente belenense: estacionando o carro em cima da calçada. Sou extremamente contra isso ou qualquer outra atitude egoísta em que prevaleça a vontade de uma pessoa acomodada em detrimento da mobilidade de centenas, ou milhares. Sou a favor do Laboratório da Cidade. Então, que voltem os parklets!

(Digo, pracinhas!)

Alan Bordallo

 

“Para mim foram dois dias intensos de reflexão… reflexão como cidadã, educadora e em especial como mãe.

Sou uma cidadã Belenense que ama a cidade em que vivo, amo as pessoas, a comida, o cheiro, o calor e a fé. Fico feliz em ocupar um espaço que é nosso por direito e que infelizmente, por conta dos maus tratos, lixo, insegurança, entre outros, acabamos “presos” em nossas casas. Penso que a proposta é ocupar para educar! Ocupar as praças, as ruas, os canteiros e as calçadas com uma perspectiva educadora.  No aspecto educação, passei ainda mais a prestar atenção para a educação ambiental, a educação para o trânsito. Os dois dias vivenciados no parklet me fizeram perceber a força que esse pequeno espaço pode ter para modificar o entorno, refletir, discutir e propor idéias para a comunidade. Foi fantástico…

Durante plantio de mudas, a minha filha Ali de 1 ano e 6 meses ajudou a reconstruir o canteiro, canteiro esse que ela vê frequentemente na passagem para a consulta médica, onde antes só tinha areia. Agora eu e ela vamos olhar para o canteiro e pensar: “ajudamos a reconstruí-lo, ali tem vida e amor”, foi lindo e emocionante. Sempre digo, a educação, os bons hábitos e os maus começam desde pequenos, na nossa casa e na família, e inserir a Maitê no contexto do cuidado com o ambiente desde pequena, foi sensacional e muito gratificante. Por isso, quero te agradecer ao Laboratório da Cidade por ter me proporcionado viver dois dias intensos ao lado da minha filha, ensinando e aprendendo com ela e com todos que passaram por ali. Vida longa ao Laboratório da Cidade, acredito que essa foi apenas uma ação dentre outras que serão feitas, refletindo sobre os problemas e as ‘bonitezas’  da nossa Belém. Dois dias que recarregaram minha bateria para iniciar a semana com o pé direito e pensar que um mundo melhor é possível.

Denise Braga

Para esse texto tivemos a incrível colaboração da voluntária Bárbara Silva. Agradecemos muito, Bárbara!

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