Mais Forte do que a Tempestade: 3 lições para construir uma comunidade resiliente

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A mudança do clima afeta primeiro as comunidades pobres e marginalizadas. Esses efeitos estão acontecendo agora – não em um futuro distante.

Particularmente nas cidades, a falta de acesso a serviços básicos, uma longa história de desenvolvimento urbano insustentável e exclusão política se combinam para tornar os pobres urbanos um dos grupos mais vulneráveis ​​a eventos climáticos extremos, como enchentes, deslizamentos de terra e secas. No entanto, as estratégias voltadas para reduzir a vulnerabilidade dessas pessoas às mudanças climáticas muitas vezes ignoram as diferenças cruciais em suas necessidades e situações.

À medida que o crescimento urbano cresce rapidamente e os efeitos da mudança do clima se multiplicam, as autoridades municipais e os governos devem tomar medidas para preparar as cidades para impactos prejudiciais. Identificar as diversas necessidades das comunidades por meio de processos participativos pode ajudar os funcionários a direcionar recursos, mobilizar ações rapidamente e levar a uma resiliência climática urbana mais eficaz.

Medindo a resiliência comunitária

Um novo documento do WRI, Stronger Than The Storm, apresenta a Urban Resilience Assessment(UCRA), uma ferramenta de planejamento projetada para ajudar as cidades a mediras várias necessidades de resiliência climática. Trabalhando com governos municipais e parceiros locais, o WRI conduziu a UCRA no Brasil em sete comunidades:duas no Rio de Janeiro e cinco em Porto Alegre. Tanto Porto Alegre quanto o Rio de Janeiro enfrentam riscos climáticos, inundações fatais e crescimento urbano desigual. Ambos são membros da rede 100 Resilient Cities (100RC), o que lhes permitiu desenvolver estratégias de resiliência urbana. No Rio de Janeiro,aplicamos a ferramenta UCRA no Morro da Formiga e no Morro dos Macacos. Em Porto Alegre, testamos a UCRA nas comunidades do Cel. Aparício Borges,Partenon, Santo Antônio, São José e Vila João Pessoa.

A UCRA mediu a resiliência com um conjunto de indicadores identificados por meio de oficinas em ambas as cidades brasileiras.Esses indicadores consideram a resiliência por meio de uma abordagem baseada na escala local: o ambiente imediato de uma pessoa molda sua resiliência, assim como seus laços sociais com esse ambiente, que são capturados por indicadores nos aspectos Contexto de vulnerabilidade e Resiliência da comunidade. As próprias percepções, comportamentos e hábitos de um indivíduo também informam a resiliência, que é capturada por indicadores no aspecto Capacidade Individual.

A avaliação da UCRA ajuda as cidades a avaliar em como as comunidades pobres urbanas e seus habitantes podem responder melhor aos possíveis riscos climáticos. Também propõe métodos participativos que podem ajudar as cidades a identificar soluções de construção de resiliência baseadas na demanda e no conhecimento locais.

Depois de coletar 400 inquéritos domiciliares de UCRA em cada cidade, os resultados forneceram insights e orientações úteis sobre como as cidades podem alocar melhor e direcionar recursos para fortalecera resiliência climática nessas comunidades. Três principais descobertas surgiram:

1.    Foco no Planejamento Urbano e Serviços

 A UCRA considera garantir o desenvolvimento sustentável e fornecer acesso a pilares-chave de serviços urbanos de qualidade no fortalecimento da resiliência climática dos pobres urbanos. A pesquisa destacou o efeito direto dessa abordagem.

 No Morro dos Macacos, por exemplo, a avaliação constatou que os serviços inadequados de coleta de resíduos urbanos fizeram com que os depósitos de lixo se acumulassem, bloqueassem os sistemas de drenagem urbana e levassem a inundações mais frequentes durante chuvas fortes. Moradores revelaram em oficinas que um esquema de coleta de lixo que anteriormente empregava membros da comunidade havia sido suspenso, apesar de sua eficácia no gerenciamento de lixo local.

Aqui, a UCRA ajudou a identificar a necessidade de reinstalar o esquema de coleta seletiva da comunidade, mas em maior colaboração com a comunidade local. Essa solução aproveita o conhecimento local, a experiência e a colaboração voluntária da comunidade para aumentar a resiliência da comunidade a eventos climáticos extremos.

 2.    Medir redes sociais por força, não por tamanho

 Pesquisas sugerem que a forte coesão social nas comunidades é uma força motriz positiva para a resiliência climática. Na pesquisa de resiliência comunitária da UCRA, quase todas as comunidades demonstraram um forte senso de apego ao bairro, com os moradores declarando que conheciam muitos de seus vizinhos pelo primeiro nome e tinham um forte senso de identidade da comunidade. No entanto, isso não se traduziu em fortes relacionamentos entre vizinhos, já que muitos não falavam por telefone ou se encontravam regularmente.

 Os moradores do Morro da Formiga também indicaram que a comunidade não se envolveu com a governança local ou associações de bairro – atividades úteis para organizar e alavancar importantes canais de comunicação com o governo municipal para preparar e responder a eventos climáticos extremos. Como resultado, a governança local e a coesão social não estavam sendo alavancadas o suficiente para ajudar a construir uma maior resiliência climática.

3. Melhore as Comunicações e o Treinamento

A capacidade individual de lidar com a mudança climática em comunidades pobres urbanas tende a ser baixa, mesmo em comunidades onde os governos municipais investiram em infraestrutura de resiliência climática. No Morro dos Macacos, onde foram instalados sistemas de alerta antecipado contra fortes chuvas em 2011, poucos moradores se cadastraram no sistema de alerta de telefonia móvel (que envia um SMS em caso de chamada para evacuação) ou participaram de cursos de resiliência oferecidos pela Defesa Civil da cidade.

Isto sugere que a melhoria do desenvolvimento urbano ou serviços de infra-estrutura precisam ser implementados em combinação com os esforços de treinamento e conscientização no terreno, em estreita proximidade com as comunidades. Isso ajudará os residentes a desenvolver novos hábitos e comportamentos que aumentem sua resiliência às mudanças climáticas.

O desenvolvimento da UCRA faz parte de um projeto mais amplo, financiado pela Cities Alliance, que se propõe a apoiar projetistas urbanos e autoridades municipais envolvidas em mudanças climáticas e planejamento urbano. Desde a aplicação inicial no Brasil, a UCRA também foi implantada em comunidades urbanas vulneráveis ​​em Surat, na Índia, e em Semarang, na Indonésia. Os resultados dessas cidades serão publicados ainda este ano.

Adaptado e traduzido do orginial de Katerina Elias-Trostmann

Katerina Elias-Trostmann é ex-Especialista em Adaptação do WRI Brasil. Atualmente trabalha para o UK International Climate Finance como Gerente de Florestas e Uso da Terra.

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