O ingrediente secreto das cidades resilientes: cultura

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Investir em preservação e coesão social pode ajudar a reconstruir cidades destruídas por guerras ou por desastres naturais, segundo um novo relatório do Banco Mundial.

Mural de rua em Medellín. Valorização da arte como ferramenta de reconstrução. Imagem de ShonEjai por Pixabay

Medellín, na Colômbia, tem uma história de sucesso. Sob o comando de Pablo Escobar, o notório traficante de drogas que inspirou o programa Narcos, da Netflix, a cidade foi um dos lugares mais violentos do planeta durante os anos 1980 e início dos 1990. Posteriormente, transformou-se em uma cidade inovadora — uma “cidade modelo”. Os motivos que levaram a essa transformação são complexos, mas um fato muito importante foi o governo local focar na mudança da narrativa sociocultural, que originou o conceito de cultura ciudadana ou “cultura cidadã”. Foi o meio de fomentar investimento coletivo para o futuro da cidade — especialmente entre comunidades que antes eram fisicamente e socialmente excluídas.

A partir de então, o planejamento com abordagem multifacetada centrou-se em cultura: construir bibliotecas e parques, incentivar a arte e criar acesso e transporte para as comunidades dos morros da cidade.

“Arte e literatura, estilos de vida, formas de convivência, sistemas de valores, tradições e crenças”, de acordo com um relatório recém lançado pelo Banco Mundial em conjunto com a UNESCO, fazem parte de um elemento negligenciado na reconstrução de cidades que passam por desastres, guerras e outras formas de insegurança urbana.

“Embora a cultura seja essencial tanto como ativo quanto como ferramenta para a reconstrução e recuperação da cidade, ela é frequentemente deixada de lado ou considerada insuficiente como parte determinante”, declarou Laura Tuck, vice-presidenta de desenvolvimento sustentável do Banco Mundial.

Investir em instituições culturais, patrimônio e espaços públicos pode ajudar a construir intercomunicação entre comunidades em áreas urbanas de pós-conflito. Também ajuda na recuperação pós-desastre de maneira mais rápida, sustentável e eficaz. Os autores relatam que compensa ter esses investimentos substanciais em cultura no início do processo de reconstrução para que a cidade se torne mais atraente ao capital e ao turismo, fomentando o crescimento econômico.

O relatório também possui um guia de como integrar cultura em políticas centradas em pessoas e lugares de uma maneira que “responda às necessidades, valores e prioridades das pessoas”. Essa abordagem se mostrou eficaz durante a reconstrução de cidades como Seul (pós-Guerra da Coréia), Mostar (pós-Guerra da Bósnia) e Catmandu, no Nepal, que foi quase inteiramente destruída por um terremoto em 2015.

As cidades precisam dominar esse processo por alguns motivos. Primeiramente, o mundo continua a se urbanizar a uma taxa extraordinária — em 2050, 70% do planeta estará vivendo em cidades. Em segundo lugar, as ameaças apresentadas pelos desastres relacionados às mudanças climáticas e aos conflitos gerados pela falta de recursos são graves, generalizados e crescentes.

Segundo o Banco Mundial, as cidades que se encontram nesse processo de reconstrução precisam primeiramente reconhecer que essa cultura — seja ela tangível (por meio de monumentos, espaços religiosos e locais protegidos) ou intangível (por meio de arte, práticas artesanais tradicionais e outros tipos de conhecimento local) — é crucial para sua estrutura social e autoimagem. As cidades devem começar a reconstrução pelos locais mais significativos para seus habitantes nativos. Após a Guerra da Bósnia, por exemplo, a reedificação da Ponte de Mostar foi “simbólica para a regeneração entre as partes muçulmana e croata da cidade”, conforme a agência Aga Khan Trust for Culture.

A chave é equilibrar as necessidades básicas — abrigo, alimentação e assistência médica — com a vontade de promover expressão artística que ajude comunidades urbanas a processar traumas, noticiar e documentar experiências. Em Medellín, por exemplo, a arte era incentivada: a música punk, o breakdancing e os murais públicos surgiram paralelamente às melhorias físicas nas áreas marginalizadas da cidade, o que mais tarde atraiu turistas.

Para priorizar projetos e escolher intervenções certas, o relatório enfatiza a necessidade de estar em constante contato com as comunidades em estado de insegurança. De acordo com os autores, “somente através de participação significativa a comunidade realmente será capaz de ‘possuir’ ativos para que aprimorem sua utilização, operação e manutenção de forma sustentável.

Referências:

Traduzido de Citylab.com https://www.citylab.com/environment/2019/03/urban-culture-city-recovery-natural-disaster-reconstruction/584536/ Autoria original: Tanvi Misra.

Tradução por Stefano Danin. Jornalista e Tradutor.

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